O sábado (14) em Porto Alegre estava friozinho, nublado e com uma chuva que insistia em não ir embora. Um típico dia para ficar em casa, debaixo das cobertas, olhando um filmezinho. Mas um fenômeno estava na Capital: Ludmilla. E isso fez desaparecer qualquer desânimo.
Carregando a animação necessária para fazer com que milhares de pessoas — o número oficial a organização do evento não disponibilizou — fossem até o Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, o Harmonia, a artista carioca apresentou o seu show Numanice 3 — que tem duração aproximada de cinco horas. Uma das últimas apresentações da turnê de despedida, aliás.
Os portões do parque se abriram às 14h, mas Lud, que geralmente sobe ao palco às 17h para este evento, deu as caras somente às 18h50min. Um atraso considerável, mas que pouco importou para os presentes, que esqueceram os perrengues quando ela desejou um "boa noite" para os porto-alegrenses.
A cantora iniciou a apresentações com Falta de Mim e, na sequência, vieram os hits Destilado, Se Não Chorar com Pagode e Cigana, colocando o Harmonia para cantar junto. Depois, para quem nunca esteve no Numanice, ela entregou alguns versos adaptados de um corinho evangélico na batida do samba: "Visitante, seja bem-vindo / Sua presença é um prazer / Com Jesus estamos dizendo / Que o Numanice ama você".
— Eu não poderia deixar de apresentar a turnê, que está chegando ao fim, para essa gauchada que sempre me acolheu tão bem. E, hoje, também, a gente está comemorando o mêsversário da Zuri, a minha filha — disse Lud, no palco, arrancando aplausos dos presentes.
A artista seguiu com a sua festa ritmada e trouxe, também, sucessos de outros grupos de pagode. O show — que está mais para festival — previsto para acabar no último minuto do sábado e trouxe, ainda, como é tradicional do Numanice, DJs e convidados para intercalar e cantar com Ludmilla. Desta vez, as atrações surpresas foram o pagodeiro Gamadinho e o funkeiro MC IG.
Viver Numanice
Vanessa Thomé, 27 anos, advogada, esteve na primeira edição do Numanice na Capital, em 2023. Agora, ela levou a amiga Victória Becker, 29, psicóloga, para compartilhar da mesma energia. Ambas chegaram cedo para ver Ludmilla — que não chegou cedo, mas não desapontou a dupla por isso.
— Em 2023, a previsão do tempo dizia que ia chover e não aconteceu. Desta vez, não tivemos a mesma sorte (risos). Mas naquele ano foi maravilhoso, e este tem tudo para ser tão bom quanto ou melhor — disse Vanessa.
Victória, de capa de chuva e um pouco encarangada, fez sua estreia no Numanice, mas o encantamento por Lud começou no Rio de Janeiro:
— Vi ela no trio elétrico e fiquei muito empolgada. Naquele momento, coloquei na cabeça que tinha que ir no Numanice. Voltei de lá decidida a isso. E vim (risos).
Luiza Marley, 29, estudante de Turismo, está vivendo o seu terceiro Numanice — dois em Porto Alegre e um em Florianópolis. E a empolgação é sempre a mesma. Vestida com uma camiseta de Adriano Imperador e com um copo personalizado da Ludmilla, ela estava se sentindo em casa.
— Sou "Numanicer", "Ludmillalover". É uma grande experiência, única, tanto pelo tempo do espetáculo quanto pelo ambiente. Aqui, é um encontro de diversas culturas — conta Luiza, que pretende ir no encerramento do Numanice no Rio de Janeiro.
Tem gente que diz que é uma experiência cara, mas tudo que é bom, de qualidade, tem um preço mais alto.
LUIZA MARLEY
29 anos
Amor pela Lud
O casal porto-alegrense Camila da Rosa, 38, do lar, e Gilson Antunes, 36, metalúrgico, estava finalmente podendo ver Ludmilla de perto. Ambos, felizes de terem a oportunidade de viver um evento deste porte na Capital.
A expectativa era tanta para o encontro com a carioca que, inclusive, Camila estava com uma camiseta personalizada da cantora, com esmero e manualidade do próprio marido, que saiu da metalúrgica direto para casa pintar a roupa para a sua amada. Entre os dizeres e desenhos, estava a frase: "Eu estive aqui!".
— Esse vai ser o melhor show que Porto Alegre já teve da Ludmilla. Somos fãs da Ludmilla, gosto de todos os ritmos que ela canta — destaca Camila, com uma capa de chuva transparente para ostentar o trabalho do seu amado.
E por falar em camiseta, um grupo de quatro jovens estava animado para ver a Lud no palco. As amigas estavam fardadas com blusas com estampas da cantora, representando o amor pela artista no peito. O quarteto, que é de Rio Grande, chegou em Porto Alegre na sexta-feira (13), alugou um Airbnb e vai ficar na Capital até segunda-feira (16). Todo o esforço pela experiência, inédita para todas elas.
— Viemos pela vontade de viver o Numanice. Eu acho que é um evento único, mesmo com várias edições. Cada vivência é única — explica Namaiane Castro, 25, cuidadora de idosos.
— As camisetas, a gente, que é fã da Ludmilla, veio usando com a intenção de tirar uma foto todas juntas para mostrar esse amor nas redes sociais. E, agora, vamos sair no jornal (risos).

Pedido dos fãs
O Numanice foi criado por Ludmilla a partir de incontáveis pedidos de seus fãs, após a cantora compartilhar, de maneira despretensiosa, um vídeo interpretando sucessos do pagode em uma festa em sua casa.
Em 2019, então, quando concorreu ao título de cantora do ano no Prêmio Multishow, a carioca propôs uma troca com os seus iradores: caso votassem a ponto de torná-la campeã, ela lançaria um EP cantando pagodes de própria autoria. Eles acataram.
Com os fãs cumprindo a parte deles, Ludmilla cumpriu a dela. E, assim, nasceu o Numanice, que faz um trocadilho com a expressão "numa nice", que significa algo como "de boa", "numa boa" ou "tranquilo". O projeto já conta com mais de quatro bilhões de plays nas plataformas de streaming. Um fenômeno.