Desde jovem procurei a analisar como deveria ser a minha relação com o dinheiro. Li o filósofo Montaigne e descobri os perigos da ambição desmedida. E ela geralmente é. Trabalhar para adquirir determinado valor é só o início de um propósito que costuma se expandir além do imaginado. Cem mil? Um milhão? Mais, sempre mais. Impossível estipular um limite final, ele é elástico e pode se estender até o último dia de nossa vida. Já fui excessivamente econômico, jogando todas as expectativas em um hipotético futuro sobre o qual não temos controle algum. Pensava: preciso me prevenir, a velhice chegará e... Então, em uma virada de chave fundamental, percebi ser necessário afrouxar meus conceitos, permanecer no agora e aproveitar as ofertas imediatas da vida. Foi um processo demorado, complexo! E ele é o resultado de uma conexão saudável entre o que adquirimos e despendemos. Recorri à terapia, convivi com seres saudavelmente perdulários para me ajudarem a refinar a percepção quando o assunto era esse. Um bom amigo me disse: a preocupação nem deve ser tanto o quanto se ganha, mas a maneira como se usufrui.
Hoje me sinto consciente e apto a istrar esta questão com considerável sabedoria. Procuro colocar em prática uma qualidade essencial nas interações: a generosidade. Ao longo dos anos, ei a desenvolver uma mescla de compaixão e desprezo por essas criaturas excessivamente ricas e mesquinhas. Gostam de precificar o trabalho dos outros e economizam centavos, mesmo tendo a garantia de polpudas cifras entrando todo o mês. Encaixam-se perfeitamente na categoria dos pobres, bem pobres. E se consideram espertos por agir assim. Até gastam consigo e a família. Porém, tudo é medido, avaliado, talvez alimentando a estranha certeza de que se exagerarem, correrão o risco de se desfazer de sua riqueza. Se possível, afasto-me dessas máquinas geradoras de capital. Nunca se sabe: pode ser contagioso.
A existência é um dia. Guardar é pôr em cofre o que aspira ao sol, provocando o perecimento. Portando, fica a sugestão: se você tem bastante, não barganhe, pague a conta do restaurante para alguém que lhe é querido, compre presentes em datas comuns. Tenho exemplos magníficos ao meu lado e com esses seres humanos iráveis pretendo ar meus dias. Com os outros, os mesquinhos profissionais, estabeleço distanciamento. Como o daquele homem que, ao me mostrar com orgulho uma de suas empresas, disse receber reiteradas queixas da esposa por raramente estar ao seu lado. Em seu vocabulário peculiar, qual será o significado da palavra aproveitar? Talvez pretenda gerir do cemitério e para a eternidade seu patrimônio. Desprezou o momento, seu único bem real.